Parece não haver outro assunto nas conversas além do surgimento do novo coranavírus. A velocidade com que se espalhou, o número de mortes e o desconhecimento — muitas vezes manifestado na forma de preconceito — sobre a China aguçaram o medo coletivo de uma epidemia mundial de um vírus potencialmente mortal.

Os primeiros casos surgiram em Wuhan, província de Hubei, na China, no fim de 2019. De lá para cá, já são 7.700 casos confirmados (em 30/1/2020), com pelo menos 170 mortes. Apenas 100 de todas as ocorrências foram confirmadas em locais fora da China continental: Coreia do Sul, Japão, Taiwan, Filipinas, Hong Kong, Macau, Cingapura, Malásia, Cambodia, Tailândia, Vietnã, Sri-Lanka, Índia, Nepal, Austrália, Emirados Árabes Unidos, Finlândia, Alemanha, França, Canadá e Estados Unidos.

Todos os casos fora da China são de pessoas que viajaram ao país recentemente; não há, até o momento, nenhuma ocorrência de contaminação nem de morte fora do país.

O novo coronavírus (2019-nCoV) pertence à família Coronaviridae, e recebe esse nome porque sua estrutura de proteína lembra uma coroa.

“Há quatro tipos de coronavírus circulando há tempos entre os seres humanos, e eles são responsáveis por cerca de 5% das infecções respiratórias sintomáticas, cujos sintomas incluem febre baixa, coriza, mal-estar e dor de garganta“, afirma o dr. Esper Kallás, infectologista e professor da Faculdade de Medicina da USP.

No entanto, há muitos tipos de coronavírus circulando entre animais, segundo o médico. Em alguns momentos da história, esses vírus passam dos animais (em geral silvestres), como ratos e morcegos, para seres humanos. Os motivos para que isso ocorra ainda não são totalmente esclarecidos.

Quando um vírus que nunca contaminou seres humanos começa a circular entre as pessoas, em geral nossa resposta é pior, pois nosso sistema imunológico não está preparado para lidar com um vírus até então desconhecido. Conforme aumenta a circulação do vírus, ele vai se tornando menos agressivo e vamos criando imunidade contra ele. Foi o que ocorreu com a gripe espanhola, que matou milhões de pessoas no mundo todo no fim da segunda década do século passado. Hoje, esse vírus circula normalmente, e é muito parecido com os vírus sazonais que causam gripes todos os anos.

Em 2002, um tipo de coronavírus que circulava em animais passou a se propagar entre seres humanos e foi responsável pela epidemia de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, do inglês) que atingiu  o sul da Ásia. Em 2012, outro coronavírus que costumava infectar animais começou a contaminar seres humanos, causando a epidemia de Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS, do inglês) no Oriente Médio.

A transmissão inter-humana desses dois coronavírus não se sustentou ao longo do tempo, ao contrário do que parece que irá ocorrer com o 2019-nCoV, que, tudo indica, tem mais capacidade de se espalhar e é mais agressivo que os 4 tipos que circulam atualmente.

PRIMEIROS CASOS

Em dezembro de 2019, houve uma série de casos de pneumonia de etiologia desconhecida em Wuhan. No início de janeiro deste ano, cientistas chineses identificaram o novo coronavírus e relataram, em estudo publicado na prestigiosa revista “The Lancet”, que as primeiras pessoas contaminadas haviam estado em um mercado de frutos do mar, demonstrando, assim, a origem animal do vírus.

Logo a transmissão inter-humana ficou estabelecida e confirmada em outro estudo, que investigou uma família que havia viajado para Wuhan.

Dos 41 pacientes mencionados no primeiro estudo, 1/3 desenvolveu síndrome do desconforto respiratório agudo e precisou de cuidados intensivos; 5 tiveram lesão cardíaca aguda; 4 precisaram de ventilação mecânica; e 6 morreram. É importante ressaltar que a idade média dos pacientes era de 49 anos, muitos tinham mais de  65 anos e outras doenças crônicas associadas, como diabetes, o que os tornam mais suscetíveis a complicações.

ALERTA MUNDIAL

As autoridades chinesas, muito criticadas à época da SARS por terem demorado a tomar as medidas adequadas para controlar a epidemia, responderam com rapidez, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os cientistas chineses logo isolaram e sequenciaram o vírus, compartilhando os dados com a comunidade internacional, e o governo implementou medidas de controle da infecção, como o isolamento de pacientes e a restrição de viagens às áreas de surto.

No início, a OMS havia declarado risco global moderado. Na semana do dia 20/1, a organização passou a considerar risco muito alto na China, risco regionalmente alto e risco global também alto. Em 30/1/2020, a organização decretou emergência de saúde pública internacional.

representa emergência internacional, pois todas as pessoas contaminadas estiveram na China e ainda não há casos registrados de contaminação fora do território chinês.

BRASIL

O ministro da Saúde do Brasil, Luiz Henrique Mandetta, afirmou em entrevista coletiva em 28/1/2020 que o Ministério da Saúde está acompanhando os casos suspeitos no país. Até o momento, há 9 casos suspeitos, mas nenhum confirmado. Todos viajaram à China recentemente.

O governo brasileiro adotou a definição de casos suspeitos da OMS: é considerado suspeito todo e qualquer caso de pessoa que apresente sintomas de infecção respiratória e tenha viajado para a China.

O dr. Kallás ressalta a importância de se investir em ciência e em saúde pública, com políticas de identificação e contenção da transmissão de vírus novos, para se preparar para casos de surtos e epidemias. Se o vírus vai atingir o Brasil, no momento não é possível saber. “Ainda não temos elementos para saber como o vírus vai se comportar”, conclui o especialista.

Muitas notícias falsas sobre o vírus têm circulado aqui e no mundo. É essencial destacar que esse tipo de boato só gera pânico e atrapalha as autoridades de saúde. Para combatê-las, o Ministério da Saúde mantém um serviço de verificação de notícias enviadas por cidadãos.

RECOMENDAÇÕES

A OMS recomenda as seguintes medidas para evitar a contaminação por coronavírus, que servem também para outras infecções respiratórias:

  • Evite contato próximo com pessoas com infecções respiratórias agudas;
  • Lave as mãos com frequência, principalmente antes das refeições e após o contato com pessoas doentes ou com ambientes em que elas tenham frequentado;
  • Evite contato desprotegido com animais rurais e silvestres;
  • Se tiver sintomas de infecção respiratória, tente espirrar ou tossir cobrindo a boca e o nariz com um lenço ou o braço;
  • Caso apresente sintomas de doença respiratória e tiver viajado recentemente para a China, contate um serviço médico.

 

Fonte: drauziovarella.uol.com.br