Falar de saúde emocional é tão necessário quanto falar de saúde física. Nossa cabeça é responsável por todas as nossas decisões diárias. Desde a força para conseguir levantar da cama para encarar mais um dia, até o equilíbrio para lidar com nossas emoções. Só que falar do nosso estado emocional nem sempre foi algo aceito. Mulheres foram chamadas de loucas e histéricas ao longo da história como forma de silenciar suas vozes. Se você pensava diferente, melhor chamar de louca do que dialogar. Em 2020 isso ainda é uma realidade. Existe uma vergonha em admitir que estamos com depressão, que tivemos um burnout ou uma crise de ansiedade. No mundo dos negócios ainda se julga o desempenho pela quantidade de horas que se trabalha, pela tolerância de lidar com os altos e baixos e, no caso das mulheres, ainda ter tempo de ser boa mãe, esposa, estar perfeitamente vestida e com os cabelos no lugar.

No ano passado, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, informou que uma pessoa morre a cada 40 segundos no mundo através do suicídio, o que equivale a 800 mil pessoas por ano. Um estudo da OMS também aponta que em 2016 o suicídio foi a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Entre adolescentes de 15 a 19 anos, o suicídio foi a segunda principal causa de morte entre meninas, após condições maternas, e a terceira principal causa de morte entre meninos, após acidentes de trânsito e violência interpessoal. No Brasil, são cerca de 12 mil suicídios registrados todos os anos.

Se a maior parte dos casos está diretamente ligada a doenças como a depressão, não podemos desconsiderar o fato de que vivemos uma vida muito frenética, cheia de incertezas, com muita cobrança e agora, ainda por cima, em um cenário de pandemia marcado pelo isolamento social e aumento das angústias. E tudo isso afeta homens e mulheres, embora os suicídios sejam mais frequentes entre a população masculina. Seja pela masculinidade tóxica, que cobra dos homens que reprimam seus sentimentos e vivam com um medo profundo de falhar, ou no caso de mulheres que, por exemplo, toleram uma situação de assédio no trabalho sem falar nada por medo de perder o emprego.

É preciso perceber os sinais quando algo não está bem com a gente ou com as pessoas que gostamos, porque eles aparecem. Nos últimos anos o autocuidado é um tema que ganhou destaque. Antes, víamos algumas empresas que timidamente promoviam práticas de bem-estar para seus funcionários. Hoje vemos essa política em muitas companhias, sobretudo as empresas de tecnologia do Vale do Silício, porque perceberam que além de reter bons profissionais, ao cuidar de seus colaboradores a produtividade também aumenta.

Às vezes não é preciso que exista algo ruim em nossas vidas para não nos sentirmos bem. Simplesmente acontece. E nessas horas é preciso fazer uma pausa, meditar e tirar um momento para cuidar de nós. Não devemos sentir medo ou vergonha de falar com pessoas próximas ou mesmo buscar ajuda profissional. Temos o potencial de transformar a nossa vida e nada que é ruim dura para sempre. Vivemos um tempo de recomeço. De ressignificação. Não só do mundo externo, mas do nosso mundo interno. Precisamos olhar nossos hábitos e cuidar da gente. Repensar a forma que trabalhamos e nos relacionamos. Mesmo que o cenário seja extremamente difícil e angustiante, temos também uma tela em branco para repensar nossos padrões de comportamento e viver uma vida mais equilibrada e saudável. E mesmo quando tudo estiver bem, é importante fazer do autocuidado um ritual diário.

Nós mulheres passamos tanto tempo cuidando dos outros que frequentemente esquecemos ou negligenciamos o cuidado que precisamos ter conosco. Quando não estamos bem, não conseguimos enxergar as coisas boas que já existem em nossa vida ou buscar as realizações que desejamos. Se sentir assim de vez em quando é normal, mas se for frequente é um sinal de alerta. Saúde emocional importa. Louca não é quem busca ajuda.